"Nós, que somos imortais, nós que estamos vivos e por isso nos presumimos imortais, nós que temos a imortalidade toda condensada no segundo que passa, no instante que se consome aqui e agora, nós avisamos toda a gente que se pode morrer por não usar cinto de segurança. Nós, donos supremos e absolutos da moralidade, da perfeição, da conduta irrepreensível, nós que nunca tivemos relações sexuais sem preservativo, nós que nunca pusemos um cigarro na boca, nós que não comemos enchidos nem pão com manteiga, nós que deixámos de comer carne de vaca e depois aves e depois pepinos e deixaremos de comer o que tivermos que deixar de comer, nós que não damos batatas fritas com ketchup aos nossos filhos, nós que sustemos a respiração quando nos passeamos numa cidade poluída, nós que nunca passámos um risco contínuo nem um semáforo vermelho, nem excedemos jamais o limite de velocidade e nunca, nunca nos esquecemos de dar o pisca, nós que nunca tivemos um ato irrefletido, irresponsável, imponderado, incorreto, inconsciente, precipitado, nós que trabalhamos arduamente em cada segundo das nossas vidas para sermos eternos, nós que conseguimos fazer o tempo estancar, as doenças reverterem, a má sorte afastar-se. Nós, os grandes e legítimos juízes do comportamento dos outros, condenamos a estupidez do miúdo dos Morangos com Açúcar, que tinha o carro e o corpo que gostávamos de ter, porque, rais'parta!, não levava cinto de segurança.
Se levasse, seria perfeito e imortal, como nós."
E sobre o acima escrito acrescento isto:
Segundo os bombeiros levava cinto de segurança, mas que importa isso agora? Uma vida que se perdeu, ou melhor duas vidas, mais uma que não se sabe como fica e, a outra vida que escapou ilesa mas que não deve esquecer jamais ter visto a morte levar-lhe os amigos e deixá-lo na angústia de pensar porque só ficou ele.
Segundo os bombeiros levava cinto de segurança, mas que importa isso agora? Uma vida que se perdeu, ou melhor duas vidas, mais uma que não se sabe como fica e, a outra vida que escapou ilesa mas que não deve esquecer jamais ter visto a morte levar-lhe os amigos e deixá-lo na angústia de pensar porque só ficou ele.
E também se perdeu naquela estrada a vida dos pais, familiares e amigos - porque é impossível viver como antes depois de uma tragédia destas...
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