Daqui
Há dias em que tasco estes olhos no armário e desato aos gritos. Grito. Grito. Grito. Cerebralmente, mas grito. O que vou eu vestir, o quê, meu Deus, o quê? Tanto trapo que nem para limpar retretes serve. Porcarias, só compro porcarias. Não gosto de nada, não me apetece nada, nada combina com nada. Olho para o sector calças, estas
não, estão-me apertadas, estas largas, esta cor não me apetece, esta
apetece, mas combino com o quê? Ah só ficam bem com aqueles sapatos e
apetecem-me botas rasas, que as altas arrasam-me com as costas, mas
afinal não me apetece aquela camisola que combina aqui, apetecia-me
daquela cor, mas sem gola alta, mas isso não tenho, nestes dias nunca
tenho o que quero, mas eu também não quero nada, por isso não faz mal,
olha afinal vou vestir esta saia, não me parece, não estou com vontade
de estar compostinha, mas também não tenho vontade de andar enjorcada,
isso deprime-me, já me basta esta sensação, vai um vestido, sempre os
vestidos, esses safadores de mentes perturbadas, mas tenho frio e se lhe
ponho um casaco de malha perde a piada, este é quente demais e não
quero andar abafada, para abafada já chega a minha cabeça, umas
leggings, parece-me bem, ai mas para isso tenho que enfiar aquele
camisolão, não gosto cá de pipis à mostra, não entendo esta coisa
inestética da legging com camisolas acima das ancas, ali com tudo
proeminente, quando sair vou contar a quantidade de pipis que vejo, é
uma actividade como outra qualquer, mas eu quero é ver coisas para o
Natal e o que visto? Odeio-me, há dias em que não gosto de mim, é isso, por nada, não gosto.
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